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Como ir e vir?
Como não sentir?
Quando vou sorrir enfim?
Se ela não me encontrar, quem vai pintar as canções que desenho em mim?
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Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces. Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida.
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
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Vinicius de Moraes
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Encerra-se mais um capítulo em minha vida, partirei, ainda sem saber pra onde ir, mas partirei, seguro de que outrora pude viver em uma outra realidade, a realidade de quem ama e é amado. Foi bom enquanto durou, porém, se tornou pesado demais. Viro a página, viverei, se intensamente ou não pouco importa, hoje tudo me é indiferente.
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[Foto: Ricardo Araújo]
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"Tenho que falar pois falar salva".
Clarice Lispector - Tempestade de Almas
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