terça-feira, 29 de julho de 2008


Nada fica de nada. Nada somos.
Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos
Da irrespirável treva que nos pese
Da humilde terra imposta
Cadáveres adiados que procriam.
.......................................................
.......................................................
Leis feitas, estátuas vistas, odes findas -
Tudo tem cova sua. Se nós, carnes
A que um íntimo sol dá sangue, temos
Poente, por que não elas?
Somos contos contando contos, nada.
.....................................................................
Fernando Pessoa
........................................................................
....................................................................................
[Foto: Rui Bento Alves]

terça-feira, 22 de julho de 2008

Separação

............................................................

No mar revolto das palavras ela flutuava em seu espírito em estado de dúvida, mal ousava pronunciá-la. Como o náufrago que luta até suas últimas forças antes de ser abatido pelas ondas, não acreditava no fim inevitável.
Mas sim, ela se fez presente, surgiu como uma vaga que rebenta nas pedras com força descomunal. Ela, soberana e fatal ...- ...Separação.
.................................................................
.....................................................................
..................................................................
[Foto: Haleh Bryan]

terça-feira, 15 de julho de 2008

(...)

..............................................................................

O pensamento vem da dor, o pensamento chama a dor, e na felicidade se vive sem pensamentos! Beba, meu velho! Afogue seus pensamentos!
...........................................................
..............................................................
Katierina em A Senhoria - F. M. Dostoiévski
......................................................................
...................................................................
[Foto: José Roberto]

terça-feira, 1 de julho de 2008

(...)

.............................................................................

Neste mundo não há nada mais difícil que a franqueza e mais fácil que a lisonja. Se a franqueza se junta a menor nota falsa, imediatamente se produz uma dissonância, e a seguir o escândalo; ao passo que na lisonja, mesmo que tudo seja falso até a última nota, mesmo assim ela é agradável e é recebida com satisfação - com satisfação grosseira, é verdade, mas com satisfação. E por muito grosseira que seja a lisonja, metade dela, pelo menos parece verdadeira.
.........................................................................
Svidrigáilov em "Crime e Castigo" - F. M. Dostoiévski
..................................................................................
.................................................................................
..................................................................................
[Foto: Haleh Bryan]