quarta-feira, 11 de junho de 2008

Ausência

.....................................................................

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces. Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida.
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
......................................................

Vinicius de Moraes
.........................................................

________________________________________________________________

....................................................................................

Encerra-se mais um capítulo em minha vida, partirei, ainda sem saber pra onde ir, mas partirei, seguro de que outrora pude viver em uma outra realidade, a realidade de quem ama e é amado. Foi bom enquanto durou, porém, se tornou pesado demais. Viro a página, viverei, se intensamente ou não pouco importa, hoje tudo me é indiferente.

......................................................................................................

[Foto: Ricardo Araújo]

6 comentários:

Ai e Tal... disse...

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces.

Tambem já pus este texto no meu blog. No entanto acho que a primeira frase é crucial... A unica coisa que te posso dizer é que às vezes tem que ser, não temos outro remedio senão seguir com o que não queremos e da forma que não queremos!

***MUAH***

Mariana Teresa disse...

Olá!

Incrível como poemas podem falar por nós...
Estou passando por uma fase igualmente difícil e ler as palavras de Vinicius me emocionaram, como se estas tivessem saido de minha boca.

Boa sorte, é todo o resumo do que queremos ter. E isso, se a sorte existir.
Mas enquanto ela não vem, não nos resta senão sentir.

nOgS disse...

A vida corre sempre no seu curso, querido Sam, tal como o água corre no curso natural de cada rio até chegar ao seu destino.

Este texto é sublime. vA ti, desejo-te muitas flores e amores e sim, vira a página.
E nunca te esqueças de te amar a ti próprio acima de tudo o resto.


Beijos ternos.

Meire disse...

Eu gostaria de conseguir não só dizer essas palavras, mas de efetivamente partir(para outra), mas ainda tem algo que me prende.
Talvez esse seja o problema, eu ainda achar que vale apena...

Beijo!
Se cuide!

K. disse...

Esse poema do Vinicius já esteve no meu Blog e, de certa forma, ainda continua presente em mim - inexplicavelmente vivo.

Então, penso que se você o colocou no seu, é porque concorda que nem sempre há leveza no amor. Ao contrário, um peso que as palavras não atingiriam a essência.

Não pense que eu sumi, estarei sempre aqui, aberta para as suas palavras. Fique bem e um graaaaannnnde abraço.

Se cuida.
Tenho um carinho muito grande por você.
:)

Patrícia disse...

Espero que tenhas realmente conseguido virar a página . Beijo ª